Um fetichismo domina o mundo - o fetichismo da mercadoria.
Sua manutenção ameaça a vida humana e do planeta. Sua superação possibilita a emancipação de toda a humanidade.
Tal
fetichismo, que é uma inversão da realidade, constitui a base da
sociedade atual. Uma sociedade que, em conseqüência disso, não tem
consciência de si mesma. Uma sociedade que não organiza diretamente sua
própria forma de socialização e dissocia homens e mulheres. Uma
sociedade que se submete ao domínio de uma abstração real, o valor, que
representa o trabalho e se expressa no dinheiro. Uma abstração que tem
poder sobre todos os membros dessa sociedade. Uma sociedade que coloca
as relações entre as pessoas como relações entre as coisas e das coisas.
Uma sociedade em que o fetichismo da mercadoria se opõe ao ser humano, à
sua própria sociabilidade. E o que é mais grave, é considerado como
axioma implícito, pano de fundo tácito que é proibido questionar, uma
obviedade axiomática.
Hoje, em todas as bases da sociedade
produtora de mercadorias, esse fetichismo fez morada. Impregnou todos os
seus aspectos. Vive da inconsciência humana. Reina através da servidão
voluntária. Leva o ser humano a viver uma vida monstruosa e praticar o
assassinato da humanidade e do planeta. Tenta prolongar a vida
capitalista. Sustenta todos os demais fetiches. Oculta segredos da sua
superação. Impede a emancipação humana.
Será possível superar o fetichismo?
Desfetichizar
é pensar o impensável, é desnudar a lógica fetichista, é fazer a
realidade se aproximar do pensamento, é desontologizar o capitalismo, é
desenvolver uma teoria capaz de dimensionar:
1º) que a realidade surge no fetichismo e o fetichismo é real;
2º) que o valor é a dissociação e a dissociação é o valor;
3º)
que a crise atual do capitalismo não é só crise do limite do valor, mas
também crise do limite da relação entre os sexos e crise do limite da
relação entre o ser humano e a natureza;
4º) que a revolução contra a constituição do fetiche e seu sistema é a mesma da superação do sujeito;
5º) que a história só pode ser compreendida como história das relações fetichistas.
Compreender
o fetichismo é captar, em primeiro lugar, a lógica destrutiva e
autodestrutiva dessa sociedade e, em seguida, a sua história. Do ponto
de vista lógico, por exemplo, é o valor que conduz à criação das
classes. E foi a luta de classes que produziu a modernização do
capitalismo.
Antes, a fetichização do mundo do valor-dissociação
possibilitou o desenvolvimento do capitalismo. A partir daí, com a
valorização do valor, este sistema desconheceu obstáculos. Hoje, com a
microeletrônica, atingiu seu limite e o resultado é o impasse atual. O
capitalismo perdeu sua dinâmica. A época do não sabe mas faz passou. O
mundo do macho acabou.
Com isso, o fetichismo da mercadoria
através de sua inversão entre o concreto e o abstrato, entre o ser
humano e os seus meios e entre o sujeito e o objeto provoca rachaduras
na aparência e começa a expor a sua essência, a sua irracionalidade. O
resultado é o colapso da civilização.
Agora, a concepção do mundo
com base nas formas fetichistas sofre profundos abalos. Inusitadamente
os relâmpagos advindos dos mercados financeiros mundiais indicam, pela
primeira vez na história, sinais de que o fetichismo pode ser superado.
E, como o fetichismo da mercadoria é o fetichismo por excelência, sua
superação possibilitará também a superação de todos os demais
fetichismos. Por causa disso, nunca houve um período da história em que a
vontade consciente da pessoa humana tenha tido tamanha importância.
Será possível superar o fetichismo?
Desfetichizar
é fazer o impossível, é construir a transnacional pela emancipação, é
superar o fetichismo, o patriarcado, o racismo e o capitalismo com as
suas categorias fundantes- mercadoria, valor, dissociação, trabalho,
dinheiro, mercado, economia, política, Estado, direito... Desfetichizar é
realizar a revolução da emancipação humana com o objetivo de construir
uma sociedade humanamente diversa e desfetichizada, socialmente igual e
criativa, ecologicamente exuberante e bela, prazerosa no ócio produtivo e
completamente livre.
Eis o início instigante do processo
emancipatório! O momento de pegar a chave, abrir a porta e entrar no
quarto proibido onde estão guardados os segredos de toda a humanidade! A
época para o vôo mais alto da inteligência humana! O período da mais
bela luta de todos os tempos!
É para pensar o impensável e fazer o impossível que este convite nos desafia!
Antifetichistas de todo o mundo, uní-vos!
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